Uma análise ao plano estratégico do Centro Hospitalar do Baixo Vouga
Chegou-me finalmente às mãos, o plano estratégico do Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV). É assim possível ter uma visão sobre o que está previsto neste plano para Estarreja, Águeda e não só. O plano visa obviamente reduzir custos, optimizar os recursos existentes e melhorar os serviços de saúde em geral.
No caso do Hospital de Estarreja, o plano prevê que fique vocacionado para medicina interna, consultas externas, imagiologia programada e pequena cirurgia. Estarreja tem actualmente 9 especialidades médicas e passaria a ter 13. O bloco operatório que actualmente funciona em regime de cirurgia de ambulatório com um horário semanal de 24 horas seria encerrado, passando a cirurgia de ambulatório para Águeda.
Em relação ao Hospital de Águeda, perderia a cirurgia electiva ortopédica (cirurgia planeada que exige internamento), assim como o internamento de ortopedia, que passaria para Aveiro. Em compensação, o bloco operatório passaria das actuais 23 horas semanais para 60 horas com o acrescento da cirurgia de ambulatório. Na consulta externa, o hospital passaria a ter 15 especialidades médicas em vez das 12 que tem actualmente. A Unidade de Urgência Básica seria também requalificada e seria criada uma unidade de hemodiálise nas antigas instalações do Serviço de Pediatria. Além disso, a aérea libertada pelo internamento da ortopedia seria aproveitada para melhorar o internamento do Serviço de Medicina.
Toda a cirurgia electiva seria então concentrada em Aveiro e o bloco operatório de Aveiro passaria a funcionar num regime de 60 horas semanais contra as actuais 49. Desta forma, a actual produção de 96 horas semanais em cirurgia do CHBV passaria para 120 horas.
Tudo isto é obviamente muito bonito, mas o próprio Conselho de Administração do CHBV reconhece que os actuais recursos humanos adstritos à cirurgia, “nomeadamente anestesistas e enfermeiros”, são insuficientes para manter a capacidade instalada nos três hospitais e que só com recurso a horas extraordinárias tem sido possível manter o sistema a funcionar, mesmo assim, “com elevado número de horas ineficazes por incapacidade de estabilizar as equipas”. E que, “actualmente, os próprios profissionais não mostram disponibilidade de manter o esforço despendido até à data, mesmo ganhando horas extraordinárias.”
Sendo assim, como é que se pode querer aumentar a produção em cirurgia no CHBV das actuais 96 horas semanais para 120? Será possível? Usando ainda o argumento de que vai haver redução de custos? E como é que o Departamento Cirúrgico do CHBV diz que vai fazer no futuro, em Águeda, 4 mil cirurgias/ano em regime de ambulatório, quando em 2012 fez 599 em ambulatório e 624 electivas (1223 no total)? Será que alguém acredita nestes números, mesmo concentrando mais recursos em Águeda?
A questão do aumento das especialidades em consulta externa em Estarreja e Águeda deve também ser analisada com cuidado. Não conheço a realidade em Águeda, mas conheço em Estarreja. Num hospital onde, por exemplo, em 2010, se esperava 1 mês por uma consulta de ortopedia, agora espera-se 3 meses. Portanto, na lógica do utente não interessa nada ter mais especialidades, o que interessa é não estar 3 meses à espera de uma consulta de ortopedia.
Obviamente, que seguindo este plano Estarreja é quem mais perde, pois deixa de ter bloco operatório em funcionamento. E convém dizer que Estarreja já perdeu muito durante estes anos. Deixou de ter consultas de especialidade em várias áreas, deixou de ter imagiologia à noite e ao fim-de-semana, deixando sem apoio a consulta aberta e desrespeitando o acordo que existia com a ARS deixou de ter patologia clínica e serviço farmacêutico. Tudo isto aconteceu e por essa razão temos que dizer basta.
José Matos