domingo, 16 de junho de 2013

E se deixássemos a campanha eleitoral de lado…


Quando em Dezembro de 2010, foi criado o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), o Governo esperava obviamente ganhos de escala e uma melhor articulação entre os três hospitais (Aveiro, Estarreja e Águeda) do CHBV de forma a prestar melhores cuidados de saúde. Era suposto que o CHBV funcionasse numa lógica tripolar, onde além da racionalização e rentabilização dos recursos, existisse também um cuidado na prestação de serviços de proximidade, dada a área geográfica que os três hospitais do CHBV abrangem.

Em teoria, o agrupamento de várias unidades hospitalares tinha obviamente o grande potencial de criar redes colaborativas mais capazes de maximizar as capacidades instaladas nos vários hospitais e de resolver vários problemas geradores de insatisfação nos utentes.
Na prática, não foi isso que se viu. Tanto Estarreja como Águeda foram acumulando capital de queixa nos últimos 3 anos e noto hoje a mesma insatisfação nas pessoas pelos tempos de espera nas consultas externas e na urgência de Aveiro, ou então pela demora nas cirurgias, que notava noutros tempos. Noto igualmente que, em hospitais como o de Estarreja, em que estas queixas não eram tão frequentes, os utentes também começam a ficar insatisfeitos pela evolução da situação presente. Num hospital onde, por exemplo, em 2010, se esperava um mês por uma consulta de ortopedia, agora espera-se três meses. Num hospital onde temos um serviço de cirurgia de ambulatório muito bem classificado, surge agora alguém a dizer que é para fechar. A cirurgia de ambulatório foi o único acrescento positivo que Estarreja teve nos últimos 3 anos e agora o plano estratégico do CHBV para o triénio 2013-2016, defende o encerramento do Bloco Operatório em Estarreja.
No resumo a que tive acesso, o Hospital de Estarreja ficará então vocacionado para medicina interna, consultas externas, imagiologia programada e pequena cirurgia, ou seja, nada que o hospital já não faça. Estarreja tem actualmente 9 especialidades médicas passaria, no futuro, a ter 13. Mas, na lógica do utente, o que interessa não é ter mais especialidades, mas sim ter consultas a tempo e horas, não é estar 3 meses à espera.
Finalmente, mais uma resposta para a Catarina Rodrigues, que insiste em fazer campanha eleitoral com este assunto, como se viu na última edição deste jornal. Percebe-se que foi nomeada pela candidatura “Futuro Feliz” para escrever nos jornais e apelar ao voto no PS. Não tem mal nenhum e ainda bem que a Catarina assume esse papel ao declarar que é candidata a vereadora na lista do PS. Como também é dirigente do PS há muitos anos. Logo, percebe-se o teor do artigo que escreveu aqui.
Só que gostava de dizer à Catarina que antes de ela escrever no Jornal de Estarreja, já eu era colaborador deste jornal discutindo política e expressando os meus pontos de vista políticos sobre a realidade local. E fui convidado para aqui escrever por uma antiga direcção deste jornal, não por sugestão do meu partido. Sempre tive respeito e consideração por todos que actuam no contexto político local e nunca escarneci de ninguém aqui ou em qualquer outro contexto político de discussão. Portanto, é preciso cuidado com as palavras que se usam porque “achincalhar” é um verbo desajustado nesta discussão. Depois também “não preciso da política para ganhar a vida e não dependo da Câmara para ter um salário”, nem nunca estive em qualquer cargo remunerado de nomeação governamental, mas também não tenho nada contra quem vive da política ou exerce cargos de nomeação governamental. Não vejo qual é o problema disso! 
Depois, começo a ficar farto dessa conversa de que quem vive em Aveiro não pode defender os interesses de Estarreja. É um tipo de argumento que se usa quando já não há nada para usar. Quantos autarcas por esse país fora vivem em concelhos vizinhos? Ficam diminuídos por isso?
Quanto à minha permanência no Conselho Consultivo do ACES do Baixo Vouga III, depende exclusivamente da Assembleia Municipal de Estarreja, que me elegeu, não da opinião da Catarina. 
Por fim, não adianta colar o PSD de Estarreja ao Governo, pois o PSD de Estarreja não segue o Governo acefalamente. Nem sequer, o Governo se pronunciou sobre este assunto.
Para o PSD de Estarreja é obviamente incompreensível que se queira fechar um serviço avaliado pelo Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS) como um dos melhores em Portugal. Neste seguimento, a  Coligação PSD/CDS-PP de Estarreja pediu ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar para ser recebida no Hospital de Salreu e pediu também uma reunião urgente com os deputados do PSD eleitos por Aveiro e fez chegar ao Ministro da Saúde a sua preocupação com esta questão, situação que o ministro nem sequer conhecia.  
Além disso, considerando a situação grave, pediu a convocação de uma Assembleia Municipal extraordinária para debater com profundidade este assunto e exigiu a presença do Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar nessa reunião. Gostava de saber o que é que o PS fez, além de emitir um comunicado (muito bem), mandar a Catarina escrever artigos de opinião (muito bem também) e do Fernando pedir uma reunião com o conselho de administração e fazer barulho na porta do hospital (também acho bem)?
Parece-me que todas as forças políticas em Estarreja estão em sintonia quanto à contestação ao fecho do Bloco Operatório em Estarreja. Portanto, vamos deixar um bocadinho a campanha eleitoral de lado e vamos lá defender o que interessa defender.

    José Matos