E se deixássemos a campanha eleitoral de lado…
Quando em Dezembro de 2010, foi criado o Centro
Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), o Governo esperava obviamente ganhos de
escala e uma melhor articulação entre os três hospitais (Aveiro, Estarreja e
Águeda) do CHBV de forma a prestar melhores cuidados de saúde. Era suposto que
o CHBV funcionasse numa lógica tripolar, onde além da racionalização e
rentabilização dos recursos, existisse também um cuidado na prestação de
serviços de proximidade, dada a área geográfica que os três hospitais do CHBV
abrangem.
Em teoria, o agrupamento de várias unidades
hospitalares tinha obviamente o grande potencial de criar redes colaborativas
mais capazes de maximizar as capacidades instaladas nos vários hospitais e de
resolver vários problemas geradores de insatisfação nos utentes.
Na prática, não foi isso que se viu. Tanto Estarreja
como Águeda foram acumulando capital de queixa nos últimos 3 anos e noto hoje a
mesma insatisfação nas pessoas pelos tempos de espera nas consultas externas e
na urgência de Aveiro, ou então pela demora nas cirurgias, que notava noutros
tempos. Noto igualmente que, em hospitais como o de Estarreja, em que estas
queixas não eram tão frequentes, os utentes também começam a ficar
insatisfeitos pela evolução da situação presente. Num hospital onde, por
exemplo, em 2010, se esperava um mês por uma consulta de ortopedia, agora
espera-se três meses. Num hospital onde temos um serviço de cirurgia de ambulatório
muito bem classificado, surge agora alguém a dizer que é para fechar. A
cirurgia de ambulatório foi o único acrescento positivo que Estarreja teve nos
últimos 3 anos e agora o plano estratégico do CHBV para o triénio 2013-2016, defende
o encerramento do Bloco Operatório em Estarreja.
No resumo a que tive acesso, o Hospital de Estarreja
ficará então vocacionado para medicina interna, consultas externas, imagiologia
programada e pequena cirurgia, ou seja, nada que o hospital já não faça.
Estarreja tem actualmente 9 especialidades médicas passaria, no futuro, a ter
13. Mas, na lógica do utente, o que interessa não é ter mais especialidades,
mas sim ter consultas a tempo e horas, não é estar 3 meses à espera.
Finalmente,
mais uma resposta para a Catarina Rodrigues, que insiste em fazer campanha
eleitoral com este assunto, como se viu na última edição deste jornal.
Percebe-se que foi nomeada pela candidatura “Futuro Feliz” para escrever nos
jornais e apelar ao voto no PS. Não tem mal nenhum e ainda bem que a Catarina
assume esse papel ao declarar que é candidata a vereadora na lista do PS. Como
também é dirigente do PS há muitos anos. Logo, percebe-se o teor do artigo que
escreveu aqui.
Só que gostava de dizer à Catarina que antes de ela escrever
no Jornal de Estarreja, já eu era colaborador deste jornal discutindo política e expressando os meus pontos de vista
políticos sobre a realidade local. E fui convidado para aqui escrever por
uma antiga direcção deste jornal, não por sugestão do meu partido. Sempre tive
respeito e consideração por todos que actuam no contexto político local e nunca
escarneci de ninguém aqui ou em qualquer outro contexto político de discussão.
Portanto, é preciso cuidado com as palavras que se usam porque “achincalhar” é
um verbo desajustado nesta discussão. Depois também “não preciso da política
para ganhar a vida e não dependo da Câmara para ter um salário”, nem nunca
estive em qualquer cargo remunerado de nomeação governamental, mas também não
tenho nada contra quem vive da política ou exerce cargos de nomeação
governamental. Não vejo qual é o problema disso!
Depois, começo a ficar
farto dessa conversa de que quem vive em Aveiro não pode defender os interesses
de Estarreja. É um tipo de argumento que se usa quando já não há nada para
usar. Quantos autarcas por esse país fora vivem em concelhos vizinhos? Ficam
diminuídos por isso?
Quanto à minha
permanência no Conselho Consultivo do ACES do Baixo Vouga III, depende
exclusivamente da Assembleia Municipal de Estarreja, que me elegeu, não da
opinião da Catarina.
Por fim, não adianta
colar o PSD de Estarreja ao Governo, pois o PSD de Estarreja não segue o
Governo acefalamente. Nem sequer, o Governo se pronunciou sobre este assunto.
Para o PSD de Estarreja é obviamente incompreensível que se
queira fechar um serviço avaliado pelo Sistema Nacional de Avaliação em Saúde
(SINAS) como um dos melhores em Portugal. Neste seguimento, a Coligação
PSD/CDS-PP de Estarreja pediu ao Conselho
de Administração do Centro Hospitalar para ser recebida no Hospital de Salreu e
pediu também uma reunião urgente com os deputados do PSD eleitos por Aveiro e fez
chegar ao Ministro da Saúde a sua preocupação com esta questão, situação que o
ministro nem sequer conhecia.
Além disso, considerando a situação grave, pediu a convocação de uma
Assembleia Municipal extraordinária para debater com profundidade este assunto
e exigiu a presença do Presidente do Conselho de Administração do Centro
Hospitalar nessa reunião. Gostava de saber o que é que o PS fez, além de emitir
um comunicado (muito bem), mandar a Catarina escrever artigos de opinião (muito
bem também) e do Fernando pedir uma reunião com o conselho de administração e
fazer barulho na porta do hospital (também acho bem)?
Parece-me que todas as forças políticas em Estarreja estão em sintonia
quanto à contestação ao fecho do Bloco Operatório em Estarreja. Portanto, vamos
deixar um bocadinho a campanha eleitoral de lado e vamos lá defender o que
interessa defender.
José
Matos