Para quem só vê a realidade a preto e branco
Não estava à espera que a Patrícia Couto, uma destacada militante do PS local, viesse para as páginas do JE defender o Ricardo Fernandes. Vê-se logo a solidariedade partidária. O artigo que escreveu não acrescenta nada à discussão e mostra bem que tudo isto não passa de uma conversa partidária a preto e branco, onde insistem apenas em ver o preto. Eu conheço bem o trajecto académico do Ricardo Fernandes, só que o Ricardo não escreveu aqui nenhum artigo académico, mas sim um artigo de carácter partidário. O que eu fiz foi simplesmente denunciar isso, pois custa-me ver um especialista na matéria apelar ao voto no PS usando os números dos Censos de forma habilidosa ou do Anuário Estatístico da Região Centro (AERC). Portanto, sobre este assunto não vale a pena escrever muito mais, pois já percebemos que o PS vai usar os números do Censos para fazer campanha partidária. Podem ir por aí como é óbvio, mas vamos ver quantos votos é que isso vai dar em Outubro.
Depois outra coisa que me custa ver neste discurso da Patrícia Couto é o sectarismo partidário, diria mesmo o ódio partidário típico da actual liderança do PS local. Um ódio que até a faz ver coisas que eu não disse. Eu não disse que ia fazer um trabalho académico sobre o tema em discussão. O que eu disse é que valia a pena alguém fazer um trabalho académico sério sobre a dinâmica populacional em Estarreja nos últimos 10 anos. Como é óbvio não sou eu que vou fazer isso. Também não disse que a acção da Câmara não tinha nada a ver com as dinâmicas populacionais, mas sim que há outros factores para além da acção política local que afectam essas dinâmicas e atribuir toda a responsabilidade de uma dinâmica populacional à acção de uma Câmara é pouco sério.
E uma coisa que fica mesmo mal neste tipo de respostas é o ataque pessoal com insinuações valorativas sobre o que eu faço ou deixo de fazer, sobre as minhas habilitações ou sobre o facto de residir em Aveiro. Percebe-se logo que o artigo foi inspirado por alguém, pois reconheço facilmente o estilo, mas era escusado enveredar por aí. Gostava também de dizer que não é preciso tirar um curso em geografia para ler e interpretar anuários estatísticos e para perceber o que está lá e o que não está.
Mas vamos começar pelas empresas. Não tenho em minha posse nenhum estudo que me diga por que razão fecharam ou mudaram empresas em Estarreja. O Anuário Estatístico da Região Centro (2011), nada diz sobre essas razões e suspeito que as que fecharam foi provavelmente por falta de viabilidade económica e quanto às que mudaram desconheço as razões. Que eu saiba ninguém tem nenhum estudo sobre isso, portanto, vir sugerir que as empresas fecharam ou mudaram por culpa da Câmara é conversa partidária. A Câmara tinha culpa é se não tivesse criado condições alternativas para a instalação de empresas, mas isso como sabemos foi algo que a Câmara fez. Portanto, se alguém quiser estudar este assunto de forma séria acho que faz muito bem, mas não é com a conversa partidária do costume.
Quanto à perda da população há várias razões para as pessoas mudarem de concelho e muitas dessas razões nada tem a ver com a Câmara. Sugerir que é tudo culpa da Câmara é conversa partidária. Não existe para já nenhum estudo demográfico sobre Estarreja que tenha em linha de conta os dados dos Censos de 2011. O último que temos feito no âmbito da revisão do PDM, ainda não abarca os dados de 2011.
Quanto a essa conversa partidária que a Câmara nada fez nos últimos 12 anos, vamos ver em Outubro se alguém acredita nisso. Realmente devem julgar que as pessoas são cegas.
Não tenho por hábito desvalorizar as habilitações académicas de ninguém. Dou obviamente valor a quem estudou e a quem se preocupa com a sua formação. Mas como facilmente se percebe, a minha discussão com o Ricardo não é uma discussão académica é uma discussão política. Porque o Ricardo não escreveu aqui nada de académico. Não vamos misturar alhos com bugalhos.
Agora o facto de residir noutro concelho (embora vote em Fermelã e pague os meus impostos em Fermelã) não me impede obviamente de falar sobre Estarreja. Ou o facto de não ser um especialista em geografia não me impede também de comentar um artigo de carácter partidário.
E já agora deixava uma reflexão para a Patrícia fazer. Se isto está assim tão mau por que razão é que o PS perdeu sistematicamente as eleições autárquicas nos últimos 12 anos, ainda por cima, com resultados desastrosos? Porque isto realmente é que dá que pensar.
José Matos
(in Jornal de Estarreja, 5 de Abril)